sábado, 26 de julho de 2008

NANÃ BURUKE OU NANÃ BURUKU

(Do livro "Lendas Africanas dos Orixás de Pierre Fatumbi Verger e Carybé - Editora Currupio)

Disputa entre NANÃ BURUKU e OGUM

Nanã Buruku é uma velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo.

Ogum é um poderoso chefe guerreiro que anda, sempre, à frente dos outros Imalés.

Eles vão, um dia, a uma reunião.

É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da esquerda.

Eles discutem sobre seus poderes.

Eles falam muito sobre obatalá, aquele que criou os seres humanos.

Eles falam sobre Orunmilá, o senhor do destino dos homens.

Eles falam sobre Exú: "Ah! É um importante mensageiro!"

Eles falam muita coisa a respeito de Ogum.

Eles dizem: "É graças a seus instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais importante entre nós!"

Nanã Buruku contesta então: "Não digam isto. Que importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"

Os demais orixás respondem: "É graças a seus instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus instrumentos que cultivamos os campos. São eles que utilizamos para esquartejar."

Nanã conclui que não renderá homenagem a Ogum. "Por que não haverá um outro Imalé mais importante?"

Ogum diz: "Ah! Ah! Considerando que todos os outros Imalés me rendem homenagem, me parece justo, Nanã, que você também o faça."

Nanã responde que não reconhece sua superioridade. Ambos discutem assim por muito tempo.

Ogum perguntando: "Voce pretende que eu não seja indispensável?"

Nanã garatindo que isto ela podia afirmar dez vezes.

Ogum diz então: "Muito bem! Voce vai saber que eu sou indispensável para todas as coisas."

Nanã, por sua vez, declara que, a partir daquele dia, ela não utilizará absolutamente nada fabricado por Ogum e poderá, ainda assim, tudo realizar.

Ogum questiona: "Como voce fará? Voce não sabe que sou o proprietário de todos os metais? Estanho, chumbo, ferro, cobre. Eu os possuo todos."

Os filhos de Nanã eram caçadores. Para matar um animal, eles passaram a se servir de um pedaço de pau, afiado em forma de faca, para o esquartejar.

Os animais oferecidos a Nanã são mortos e decepados com instrumentos de madeira.

Não pode ser utilizada a faca de metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde aquele dia, opôs Ogum a Nanã.

sábado, 19 de julho de 2008

Postado por mãe marcia d'obaluae em 06/06/2008 17:55

vale a pena refletir....
Um dia um jornalista ao entrevistar uma Mãe de santo, perguntou:

“Quantos filhos sua casa têm?”

A senhora não lhe respondeu como ele esperava, disse que ele deveria
acompanhar as atividades do terreiro na próxima semana que ele teria a
resposta.

E assim foi no sábado pouco antes de se iniciarem os trabalhos. Lá
estava ele sentado na assistência observando tudo. Viu que havia mais ou
menos 40 médiuns. Quase todos estavam na corrente, prontos para a gira,
e aproveitavam estes momentos que antecediam o início dos trabalhos para
mostrarem uns aos outros suas roupas novas, ou pra colocar algum assunto
em dia.

Mas notou também que um grupo de cinco médiuns estava em plena atividade
arrumando as coisas para o inicio dos trabalhos.

O trabalho foi muito bonito e alegre, quando terminou viu que a grande
maioria dos médiuns se apressa em se retirar, uns por que queriam chegar
logo em casa, outros por terem algum compromisso. Notou mais uma vez que
aqueles mesmos cinco médiuns que antes do início arrumavam as coisas,
agora eram os que começavam a limpar e organizar o terreiro depois dos
trabalhos.

Na segunda feira haveria um momento de estudos no terreiro e ele foi
convidado. Ao chegar ao local, chovia muito e viu que menos da metade da
corrente se fazia presente, novamente notou que aqueles cinco estavam lá.

Na quinta-feira haveria um trabalho na linha do Oriente, e também
passaria na TV um jogo da seleção, novamente bem menos da metade da
corrente compareceu, mas aqueles cinco estavam entre eles.

No sábado novamente estava sentado na assistência e novamente repetiu-se
o que havia acontecido na semana anterior, os cinco médiuns fazendo os
últimos preparativos para o inicio dos trabalhos, e também começaram a
limpeza assim que estes se encerraram, e foi no término dos trabalhos
que foi chamado pela Mãe de Santo, que lhe perguntou:

“Você conseguiu descobrir quantos filhos têm em nossa casa?”

“Contei 43, minha mãe” - respondeu.

“Não, filhos verdadeiros, tenho cinco. São aqueles que estavam presentes
em todas as atividades da casa.”

“E os outros?”

“Os outros são como se fossem 'sobrinhos' de quem gosto muito e que
também gostam da casa, mas só visitam a 'tia' se não houver nenhum
atrapalho ou programa "melhor", e mesmo vindo muitas vezes ficam
contando os minutos para acabar os trabalhos”.

O rapaz muito sério perguntou:

“E por que a senhora não impõe regras para mudar isto?”

“Meu filho, a Umbanda não pode ser imposta a ninguém, tem de ser
praticada com entrega, o amor à religião não pode ser uma obrigação, ele
deve nascer no coração de cada um, e o mais importante a Umbanda
respeita o livre-arbítrio de todos os seres...”

“E nós, somos 'filhos' ou 'sobrinhos' de Umbanda?”

*“Somos Umbandistas em todos os momentos de nossa vida, ou somos
Umbandistas somente uma vez por semana durante os trabalhos no terreiro.”
*
Um Fraterno Saravá!

Osvaldo Rodrigues


sábado, 12 de julho de 2008

LENDA DE NANAN

Olorun enviou Nanan e Oxalá para viverem na Terra e criarem a humanidade. Os dois foram dotados de grandes poderes para desempenharem essa tarefa, mas somente Nanan tinha o domínio do reinado dos eguns, e guardava esses segredos, bem como o da geração da vida, em sua cabaça.

Oxalá não se conformava com esta situação, queria poder compartilhar desses segredos. Tentava agradar sua companheira com oferendas para convencê-la a revelar seu conhecimento.

Nanan, sentindo-se feliz com as atitudes de Oxalá, decide mostrar-lhe egun, mas apenas ela era reconhecida nesse reinado.

Certa vez, enquanto Nanan trabalhava com a lama, Oxalá, disfarçando-se com as roupas dela, foi visitar egun, sem lhe pedir autorização.

Quando Nanan, sentiu a falta de Oxalá e de sua própria vestimenta, teve certeza de que ele havia invadido o seu reinado, atraiçoando-a gravemente. Enfurecida com a descoberta, resolveu fechar a passagem do mundo proibido, deixando Oxalá preso.

Enquanto isso, Oxalá caminhava no reinado de Nanan, tentando descobrir seus mistérios, mas apenas ela conseguia comunicar-se com os eguns.

Egun, sempre envolto em seus panos coloridos, não tinha rosto, nem voz. Oxalá, usando um pedaço de carvão, criou um rosto para ele, como já havia feito com os seres humanos, e, com seu sopro divino, abriu-lhe a fala. Assim, ele conseguiu desvendar os segredos que tanto queria, mas, quando se deu conta, viu que não conseguia achar a saída.

Nanan não sabia o que fazer, por isso fechou a passagem para mantê-lo preso até encontrar uma forma de castigá-lo. Contou a Olorun sobre a traição de Oxalá, que não aprovou a atitude de ambos. Nanan errou ao revelar a Oxalá os segredos que o próprio Olorun lhe confiara. Para castigá-la, tomou o seu reinado e o entregou a Oxalá, pois ele desempenhara melhor a tarefa de zelar pelo eguns. Oxalá também foi castigado, pois invadiu o domínio de um outro orixá. Daquele dia em diante, Oxalá seria obrigado a usar as roupas brancas de Nanan, cobrindo o seu rosto com um chorão, que somente as iyabás usam.